terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Poligamia – Cultura Africana


É constante ouvir em conversas de mais velhos que «A poligamia faz parte da cultura africana – no nosso caso, angolana» mas, é chegada a hora de dar uma olhada na poligamia e analisar se ela é realmente um aspecto que deve ou não ser considerado.

família é o núcleo da sociedade e este núcleo deve ser recheado de valores para poder construir uma sociedade de valores. Cultura faz parte do desenvolvimento da sociedade, mas existem aspectos culturais que chegam a ridicularizar certos povos pois são aspectos que não dignificam o homem e a sociedade em si.
Ao decidir passar o resto da nossa vida com uma mulher, estamos a afirmar que esta é a mulher que amamos e que nos completa, a metade da nossa metade. A verdadeira voz da nossa razão. A mulher a quem queremos fazer feliz e queremos que nos faça feliz.
Ao nos lançarmos a determinada altura numa outra relação, com uma outra mulher, poligamia, estaremos a agir pensando na nossa companheira ou somente em nós? Será que estaremos a mostrar que amamos a mulher a quem juramos fidelidade? O homem que se lança numa aventura destas, é assim que eu chamo a poligamia, está a decidir deixar de ter com sua parceira uma relação aberta pois terá que omitir muitos aspectos da sua rotina diária que estão relacionados com a outra mulher. E como se não bastasse, a atenção dos filhos também será dividida estando assim comprometido o acompanhamento que os filhos carecem do pai, principalmente rapazes que precisam de um modelo masculino a quem seguir. Como não somos capazes de amar as pessoas a igual medida, teremos sempre aqueles que se sentirão excluídos, tanto nos filhos como mulheres. Teremos filhos que não conhecem a sua família, que não têm um bom relacionamento com seus meio irmãos, sem contar com o risco de termos mulheres a lutar no dia de receber a mesada que nunca chega para sustentar as duas ou mais famílias de um único homem. Teremos irmãos que se odeiam profundamente porque uns acham que o pai só dá atenção a outros. E assim teremos uma sociedade dividida porque as famílias são rivais. O pano preto não fica por aqui, em casos mais extremos, quando os filhos acordam para a realidade e descobrem que tudo acontece porque o pai não conseguiu se conter e teve que criar toda esta confusão arranjando uma e outra mulher, tendem a virar-se contra o pai e tornarem-se em grandes inimigos.

Dos muitos homens com quem tive o prazer ou desprazer de conversar, as opiniões variavam: sou polígamo porque meu pai também foi; Abraão também foi polígamo; não podemos comer somente peixe, temos que variar; a poligamia é cultura; um dia estarás envolvido nisso e saberás o porque. Estas foram muitas das respostas que obtive ao questionar as pessoas sobre o facto de se tornarem polígamas. Já as mulheres, na sua maioria diz ser contra a poligamia com excepção daquelas que são segunda ou terceira mulher.
É verdade que a poligamia é uma prática muito antiga, encontrada em muitas sociedades humanas. A Bíblia de facto não condenou a poligamia mas também não comandou. O Antigo Testamento frequentemente relata casos de poligamia. Dizem que o Rei Salomão teve 700 esposas e 300 concubinas (Reis 11:3). Também o Rei Davi teve muitas esposas e concubinas (2 Samuel 5:13).
Mas vejamos o que Diz Génesis 2, 18 « Não é bom que o homem viva só, vou fazer-lhe uma ajudadora como complemento dele. Notemos que Deus não diz que vai fazer ajudadoras e sim uma ajudadora. O Antigo Testamento tem algumas injunções em como distribuir a propriedade de um homem entre seus filhos de diferentes mulheres (Deuteronómio 22:7). A única restrição com relação à poligamia é a proibição de tomar uma irmã da esposa como uma esposa rival (Levítico 18:18). 
Os judeus orientais praticavam a poligamia regularmente até a chegada a Israel, onde ela foi proibida por lei. Contudo, na lei religiosa, que sobrepuja a lei civil em tais casos, a poligamia é permitida.


E com relação ao Novo Testamento? É verdade que Jesus não falou contra a poligamia, embora ela fosse praticada pelos judeus de sua época. Mas em I coríntios 7,2 o apóstolo Paulo fala que tanto homem como mulher devem ter «seu próprio marido ou mulher» e não maridos ou mulheres. Por uma questão de princípios, a igreja proibiu a poligamia, a fim de se adequar à cultura Greco-romana (que prescrevia somente uma esposa legal, enquanto que tolerava o concubinato e a prostituição). 
O Alcorão também permitiu a poligamia, mas não sem algumas restrições: "Se vós temeis não serdes capazes de conviver justamente com os órfãos, casai com mulheres de sua escolha, 2 ou 3 ou 4 vezes; mas se temerdes que não sereis capazes de conviver justamente com elas, então casai somente com uma". O Alcorão, ao contrário da Bíblia, limitou o número de esposas a 4, sob a estrita condição de que as esposas sejam tratadas igualmente. Isto não deve ser entendido como uma exortação a que os crentes pratiquem a poligamia, ou que a poligamia seja considerada como um ideal. Em outras palavras, o Alcorão "tolera" ou "permite" a poligamia, e não mais, mas por que? Por que a poligamia é permitida? A resposta é simples: há lugares e épocas em que razões morais e sociais compelem para a poligamia. Como os versos do Alcorão acima indicam, a questão da poligamia no Islam não pode ser entendida como parte das obrigações da comunidade com relação aos órfãos e viúvas. O Islam, como uma religião universal, aplicável para todos os lugares e tempos, não poderia ignorar essas pressões.


É verdade que cultura são os hábitos de um certo povo. Mas será que todos os hábitos devem ser conservados? Será que o costume é mais importante que o bem estar das famílias?
Somos os jovens de agora e adultos do futuro. Será que são estes (des)valores que queremos transmitir aos nossos filhos? O que será que acontece com a segunda mulher quando fica sozinha em casa a espera do marido que se encontra em outra casa durante uma semana? Será que ela continua a espera do homem, fiel e paciente? Ou lança-se em outras aventuras? Será que não estamos a procura de doenças? Porque é que as mulheres conseguem conter o desejo de estar com outros homens e os homens não?
Se a poligamia é realmente um aspecto cultural do povo angolano a ser respeitado eu não sei. Mas sei que talvez um dia quando todos nós (homens) conseguir-mos colocar-nos no lugar das mulheres, este mal será ultrapassado e visto como um desvio ao que é normal.
José Africano Vemba


4 comentários:

  1. gostei de tudo que li, precisamos rever esta cultura machista e promíscua

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  2. Obrigado amiga Jaqueline, este é um aspecto da nossa cultura que, com certeza ainda dará muito que falar.

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  3. Muito bem escrito este artigo. Concordo plenamente consigo. A poligamia até pode ser cultural, mas, na minha opinião é mais uma invenção do homem para legalizar a promiscuidade. Os polígamos são pessoas egoítas que só olham para o seu imbigo. Nao se importam com a primeira mulher, alias com nenhuma mulher e nem mesmo com os filhos. Penso que são pessoas inseguras e por isso só se sentem bem ferindo a parceira. Existem aspectos da nossa vida que não se devemos partilhar.

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  4. Muito bem escrito este artigo. Concordo plenamente consigo. A poligamia até pode ser cultural, mas, na minha opinião é mais uma invenção do homem para legalizar a promiscuidade. Os polígamos são pessoas egoítas que só olham para o seu imbigo. Nao se importam com a primeira mulher, alias com nenhuma mulher e nem mesmo com os filhos. Penso que são pessoas inseguras e por isso só se sentem bem ferindo a parceira. Existem aspectos da nossa vida que não se devemos partilhar.

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